sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Em cima do Lácio

Laceada flor do Lácio,

largamente inculta e bela.

Entrecurtanto a conversa:

Cagou.

É vaca amarela.





Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

domingo, 20 de janeiro de 2008

Cinzas

E me senti bem por ter todos os sentidos despertos e apurados, indicando que havia chegado o tempo de cuidar e não ser cuidado, como todos ao redor bem sabiam. E quedei-me ali a sentir-me bem, enquanto no vídeo passavam todas as últimas novidades dos anos sessenta.

A TV Macho decretou: cinza é a cor da moda. Para sempre, para felicidade dessa cidade de alma cinza, de cujo céu nuvens chuvosamente cinza resolvem descer quando lhes dá na cinzenta telha, tornando-se densa névoa donde surgem sem aviso idílios ou abominações, conforme a imaginação do transeunte.

É uma cidade fantasma, disseram-me seus gentis lábios de mocinha interiorana. Ó sim! Como mesmo uma recém chegada pode constatar, há penadas almas cinza a perambular dia e noite pela cidade. Essa névoa, essas nuvens, essa cor, essa sensação, não passam de uma manifestação da sua presença.

Uma música traz a lembrança do porquê da escolha em tratar apenas com entes mortos é vã. Existir é machucar. E machucar-se. As vezes, voluntariamente.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves



Vai o vídeo como referência:




Incógnita

Óculos,
nariz,
bigode.

Por cima um saco de pão.

Corada sob a maquiagem,


incógnita.

Multidão.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves





domingo, 6 de janeiro de 2008

Fraseologia prostitutológica

Mamãe gaviona
Ensina o filhinho
A gavitoar:
- Gaviota filhinho! Gaviota!



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

Comunicação direta

Já faz algum tempo que percebi que a chave da transcendência é imaginar o inimaginável. Claro que isso é impossível, há um paradoxo intrínseco à proposição. Mas como vem sendo insinuado desde a aurora da humanidade, de vez em sempre a grande recompensa em uma jornada é o caminho percorrido, não o destino a que se chega.
Neste caso específico, isto significaria que o exercício de tentar imaginar o inimaginável é mais importante que a resposta a ser alcançada através de sua prática. Isso porque tal "técnica" nos induz a um estado mental similar ao de "mente vazia" considerado ideal por espadachins e duelistas em geral, quando no desempenho de funções e/ou hobbies.
Ao que parece, o efeito para o praticante é uma liberação da consciência, permitindo que corpo e mente ajam simultaneamente, sem interferências de qualquer ordem. No dia a dia, sua utilidade seria especialmente sentida em coletivos lotados, onde invariavelmente um infeliz - no mais das vezes estudante - se coloca às minhas costas com uma mochila aos ombros.
Apenas quando a sabedoria e engenho acumulados por nossa civilização atingissem um grau tal que nos permitisse a invenção de um transcendenciômetro, poderíamos talvez vislumbrar a magnitude do processo por que passa um indivíduo que, corpo e mente funcionando em perfeita sintonia, menos do que apercebendo-se que o corpo humano é similar a uma pirâmide invertida - com o tronco ocupando volume significativamente maior do que as pernas - instintivamente transferisse seu fardo das costas para a mão, minimizando assim o óbvio desconforto que a sua parca percepção tem por efeito causar àqueles a sua volta.
Um cidadão razoável certamente poderia tentar acelerar o evento, verbalmente comunicando a situação ao ser atravancante. Eu porém, sigo os preceitos milenares de antiqüíssimas civilizações orientais, as quais, mui corretamente, nos legaram o popular adágio: "uma cotovelada na nuca vale mais que mil palavras".

Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves


Texto originalmente postado aqui: http://nossogarfodecadadia.blogspot.com/2006_08_06_archive.html