segunda-feira, 21 de abril de 2008

Vaga consciência

Ela não teme a morte porque sabe que a morte não passa de mero não existir.

Entende no entanto que tal perspectiva já é suficiente para aterrorizar a maioria das consciências, cujos amores, alegrias, tristezas e dores são motor a impulsionar a ânsia por perpetuar-se pela eternidade.

Quando arrancados de si tais impulsos foi que descobriu a chave para uma plenitude que não mais lhe interessava.

Perambulando pela existência, entretecendo teias do masoquismo mais sádico, ela não ama a morte, pois já esteve morta, e sabe que nem mesmo aí reside algo que lhe desperte tênue paixão.

Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

Godofredo vingador

Rezavam e rezavam por um milagre, e quando este aconteceu sequer se deram conta. Isto porque o nascimento de Godofredo deu-se em silêncio, longe de seus olhares buliçosos, sem acompanhamento da mídia, presença de estrelas ou fogos de artifício.


Godofredo enxergava padrões e isso o tornava imortal. Percebia e percebia e percebia em ritmo impossível, e naquele dia, no laboratório, ninguém o notou. Tudo estava preparado, o experimento pronto para ser posto em prática, as cobaias enfileiradas mas ninguém notou que pela milionésima vez o rato era o mesmo.


Pudera, Godofredo não deixava. Usava seus poderes para distorcer tempo e espaço e torturar infinitamente as cobaias mandando-as para o inferno via portal transdimensional. Congelara o tempo, e se divertia a milênios repetindo a mesmíssima ação.


Godofredo era a bactéria vingadora, e volta e meia usava o rato em que habitava para dar um soco no olho do cientista que lhe vinha estudar.





Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

Originalmente postado aqui: http://nossogarfodecadadia.blogspot.com/2007/09/godofredo-vingador.html

domingo, 6 de abril de 2008

Desgarça

Tessitura de tudo que foi,


num rasgo final de beleza.


Contrapondo ao escuro infinito


um raio,


um grito,


tristeza.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

Humor

Eu não amo, eu húmus.

Pois conquanto seja o cérebro fértil,

o peito é tal qual um deserto de sal.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves