Estava vendo o filme do vizinho treze, mas não peguei direito a história, andando de lá pra cá entre telefones, hambúrgueres, internets e gentes dizendo sobre: “Ai Paulo! Você está depressivo!” “Ai Paulo, você está maníaco!” “Ai Paulo, você passa gelol no cu dos outros sem pedir por favor!”
Mas parece ser a história clássica sobre bullying, com um infeliz sofrendo todo tipo de indizíveis sofrimentos e humilhações e crescendo complexado e torto até que fica doidão e começa a matar por vingança, só que dessa vez com contornos ajaponesados ao invés dos tradicionais trocentos e um fuck you por minuto.
O sucesso desse tipo de filme – e prática – em sociedades altamente competitivas como a americana e a japonesa só pode ser considerado como efeito colateral das sucessivas experiências levadas a cabo por governos e iniciativa privada visando o desenvolvimento de cidadãos de alta performance e rendimento.
O pessoal vai amalucando sob tanta pressão, até que explode feito as Panex quando entupia a válvula de segurança; e azar do coitado que tiver que limpar a melecaiada que sempre acaba grudando no forro.
Tenho para comigo que esse tipo de vingança sempre depõe contra a pessoa que a efetua, mesmo quando muito bem executada. É que a linha que distingue entre o assassino frígido e calculista e o suicida recém desmamado querendo chamar atenção para seus problemas existenciais, virtualmente inexiste.
Assassinatos em série planejados e levados a cabo ao longo de diversos anos são indicativos da determinação e persistência do vencedor tanto quanto do enorme vulto adquirido por cada agressão sofrida, da incapacidade em lidar com os traumas daí advindos. O melhor modus operandi para a criança que sobreviveu para ficar grande o suficiente a ponto de ter vergonha de um frenesi de tiros, choro, baba, explosões e histeria.
De qualquer forma, é sempre coisa de gente de pouca fé, que não sabe caminhar sobre as águas porque foi criada sob a égide um deus-pai-todo-poderoso que espanta os lobos de em volta de seu rebanho porque não gosta de competição.
Esses dias tomamos café e ele me disse que eu posso falar palavrão.
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves