domingo, 22 de junho de 2008

Da vida, o problema é viver


Fico em casa respirando.
Com dificuldade.
No fundo, dentro do peito
é o coração que me bate.


É meu sangue, fino e grosso
que escorre de dentro de mim
desaguando em velhos rios
que nunca mais terão fim.


Culpo o pecado e o vício
me debatendo a debalde,
mas sei desde o primeiro início:
No fundo, dentro do peito, é o coração que me bate.


Domingo é um dia ambíguo. Alfa e ômega, princípio e fim. Como ambígua é a vida. Como ambíguo é, forçosamente, o escritor.


O fecho se dá ao reverso, no primeiro início de uma tentativa talvez vã, mas não tão plena em alegrias ou decepções quanto se poderia supor de antemão.


Eu, que vivo para o nada, muito em breve voltarei ao pó. Das estrelas, o que me resta é essa insistência em brilhar para dentro.


Não fosse assim tão tímido, diria que toda vida, assim como todo orgasmo, não passa de uma súbita implosão...


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves


Postagem original

4 comentários:

Carla Abreu disse...

"Ambíguo como a vida..."

Anônimo disse...

Não conhecia esse... conhecendo agora. Você é surpreendente.

Mary Miranda disse...

Paulo,

Um tanto complexo, seu poema nos transporta para uma reflexão bem intrínseca...
Gosto desse tipo de texto!
Nem tudo dá para explicarmos em palavras; talvez compreendamos melhor o que queremos dizer quando não as usamos.
Como dizer o que não se consegue explicar?
É só fazendo o que você fez aqui, dando um mergulho no eu mais profundo.
Pelo meu entendimento do texto, acho que a dificuldade da vida, já esta aí "explicada" no título: " Da vida, o problema é viver".
Se estamos aqui sob esse céu azul que nos cobre, estamos vulneráveis a toda sorte de situações porque o simples respirar é viver!...

Um forte abraço!
Belíssima construção textual!

Mary:)

Anônimo disse...

Muito belo. A vida como súbita implosão. Bjos