quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ciência contábil

Eu sei,

e conhecimento é poder.


Contra as tensões padronizadas

do convívio social

onde vento é só vento,

manifestação mecânica do movimento do ar,

eu sei.


Acompanhar seu ritmo

e no transe induzido da dança caótica através dos tempos,

deixar-me levar pelo espaço imutável,

que nunca é igual.


Pés firmemente plantados no ar

e a plena consciência

de que conforme a matemática

dois mais dois

são mais dois

mais dois.


Eu sei

assim como sei quem não sabe

embora não saiba ao certo

saber quem sabe também.


Talvez por isso

continue errando tanto nas contas

de mais dois

mais dois.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Engenho econômico

A despeito da total imobilidade que sinalizava o desespero de seu niilismo obssessivo, ninguém, por incompetência estética ou compassiva, estendeu-lhe a mão.

Talvez um tiro na boca lhes reavive a memória - arquitetou, da imensidão solitária das cinco paredes do orçanatório estatal.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Etnometrice

Sobre o que sem valor ou sentido
sobretudo,
alucinações.

Sobre tudo que não presta,
sobretudo o que atesta
o oco ao vazio.

Sobre embriaguez e crendices,
sobretudo os sinais nas promessas,
piscadelas com fins de etno-meteção.

Sobretudo,
sobremaneira,
método;
sobre tudo.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves



sábado, 14 de agosto de 2010

Auto-estima

Todo mundo tem seu modo,

todo modo tem seu mundo.


Seu lago,

seu narciso,

sua vida,

sua luz.


Que se perde num jogo de espelhos,

num segundo suicida de auto-reflexão.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Deus e o Diabo na terra do Tao

Enquanto o Yin

(escrevendo reto por linhas tortas)


enceta mais um lance de sua eterna batalha


contra o Yang

(escrevendo torto por linhas retas)


o poeta insiste em escrever no escuro

por pura preguiça

de ascender à luz.



Paulo Eduardo de freitas Maciel de Souza y Gonçalves

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sonhos d'espadaria

Os sonhos são tolos
crivados de balas
abertos na faca,
contundentes e incisivos
como cacos de garrafa;
os sonhos são meus.

Os sonhos são planos
amorfos
insanos
triturados sob o peso do tempo que dispara
são pó
de pirlimpimpim.

Os sonhos são doces
com gosto de sangue
o velho
o ferido
o jovem
perdido
no olhar do predador.

O sonho é aquilo
que mantém-se vivo

no silêncio,
na friagem,
na total escuridão.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de souza y Gonçalves

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Bizorra

Soube que seguramente teria uma vida breve, acabada na fulgurante desgraça dalguma calamidade individual ou coletiva quando surpreendeu-se imaginando as vantagens de envelhecer.


Mais um pouco e teria filhos, gastando a alma e tornando-se visível aos olhos cobiçosos de uma miríade de egos infláveis, ao amálgama indistinto de todas as consciências tortuosas que julgavam-se abençoadas pela maldição de não morrer.


E na consideração da plausibilidade da insanidade a tanto tempo impingida foi que descobriu-se comum e medíocre, bem de acordo com a regra implícita que impõe ao loco que é loco que não o admita.


Assim, num universo de indescritível pequenez, alcançou a proeza de tornar-se no super-inseto bizorra, que lê o futuro de trás pra diante e age de cor e salteado na esperança de, através da média aritmética, manter os cantos de seu mundinho nos devidos ângulos de 90º.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meio-termo

Compartilhava mediunicamente da opinião média do cidadão mediano: artista bom é artista morto.

Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sábado, 26 de junho de 2010

É isso aí!

Foram meses e anos e meses e a solução não veio. No entanto todos se sentiam bem, conectados àquilo que chamavam de isto e ninguém sabia o que era.


Interpelados em qualquer situação, no entanto eram unânimes em concordar: “Isto é bom! Ah sim, isto é muito bom!”


A despeito de qualquer prova em contrário, passaram a acreditar que isto era tudo, e em breve nada mais existia.


Limitados que se encontravam a só isto, era iminente a desgraça. E ela desgraçadamente sobreveio, rasgando aos olhos de todos uma nova e incompreensível realidade: This is it!



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Despesas

O acaso não pune a inocência de quem segue às apalpadelas pela escuridão

em busca da transmutação do abjeto em palatável

da merda em ouro

do ai em oi

do suspiro em exclamação.


Senão,

a rejeição insana à alegria estéril

seria pecado,

e a dicotomia intrínseca a toda ciência da fé

uma heresia imperdoável,

e todo trabalho de encriptografação de sentimento em poesia

um desperdício monumental.


No entanto, se assim o for,

que assim o seja,

e amém,

para todas as lágrimas despendidas em vão.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Análise estrutural

A diferença entre quem sempre escolheu a opção mais fácil e quase fracassou e quem sempre escolheu a opção mais difícil e quase triunfou resume-se ao "quase".


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

domingo, 16 de maio de 2010

Fetiche

- Seu guarda, tenho cinco gramas de bosta na calcinha. Não quer se enfiar no meu cu ver se acha o resto?

Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Compulsão

Foi necessário e preciso.


Fez-se sem honra nem brilho.


Faces sem nenhum sorriso.


No ato.


Preciso.

Preciso.

Preciso.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sábado, 17 de abril de 2010

Fábula da mágica mentira

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A energia que possibilitou a realização do ritual, retirou-a de uma dessas convulsões sociais que de tempos em tempos convergem em todos os planos, quando através do previsto pela configuração astral do Cometa Meteoro com as Linhas Abissais Anômalas, apresentou-se em local e momento corretos para absorvê-la de uma das maiores já vistas, que ceifou incontáveis vidas de toda e qualquer espécie jamais existente.
Nos parapeitos e sacadas das beiradas dos cantões de todos os universos, sacerdotes e altos-dignatários de variadas designações esotéricas reuniam-se com grupos seletos de pupilos, herdeiros e familiares exigindo atenta observação. Tantos e tão diferentes mestres; uma única recomendação: - Alá a merda que rola quando profanos se metem a desencadear eventos!
Juniki, o mais novo e promissor dos filhos de Bierklaus, Sumo-Sacerdote e líder supremo dos místicos do Horto Negro, torceu nervosamente a barra de sua toga cerimonial e encolheu-se quase imperceptivelmente ante a magnitude e o espectro das forças desencadeadas. Seu experiente e poderoso pai, tratou porém de tranqüiliza-lo: - Susse fry, a possibilidade de manipulação de tais energias é proporcional ao caráter lobisómico daquele que as invocar. Um afetado a vampírico com intenções claramente calculistas como este jamais teria a força de vontade necessária para dominar tamanha fúria. Ele será consumido pela própria ambição.
Mas ao invés de implodir e consumir o profano em seu centro, a enorme massa de radiação incandescente, como que impelida por sua vontade, expandiu-se em espirais sucessivas até assumir a forma daquilo que parecia em seu exterior uma estrela de sete pontas com os vértices perfeitamente alinhados com cada um dos portais de observação, levando em múltiplas realidades o astrônomo amador Ricky Padeiro a exclamar simultâneamente: - Um flambant!
Do interior porém, a situação era inversa. Os vértices é que formavam pontes invisíveis ligando a estrela e os portais, através dos quais irrompiam instantaneamente alcatéias desordenadas de incontroláveis chamas lobisomórficas, torrando os observadores nas sacadas e parapeitos dos confins dos cantões dos universos, os fracos na mesma hora, os fortes um segundo depois.
Descendo da cabine da estrela - que agora permaneceria ligada por pelo menos cinco eternidades, impedindo definitivamente através de exaustão por consumo qualquer tentativa de reexistência por parte dos habitantes dos portais - o profano foi recebido por uma multidão de aturdidos acólitos, que pela primeira vez testemunhavam uma bem sucedida prática de resistência ao tão afamado ritual de suicídio.
Através dos éons o inusitado de um tal feito geraria especulações sobre como um ser de características eminentemente vampíricas domara o cão, sendo que de cada vez que alguma lhe chegava ao conhecimento, o profano gorgolejava rios de cachoeiras; tanto celebrando a feliz coincidência triste que o despossuíra frente ao mundo a caminhar em quatro patas, quanto desdenhando da burrice analítica de seus estudiosos, que por medo ou preconceito, sempre se furtavam à aproximação que permitiria um entendimento detalhado sobre a natureza da besta, cuja insuspeitada consciência não necessitava para orientá-la em direção ao caminho desejado mais do que a força de vontade necessária para convencê-la da honestidade de seus propósitos. Ainda que mentirosos...

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E de cada vez que isso acontecia, a multidão de acólitos que sempre o cercava qual moscas rolando bosta, por sua vez limitava-se a exclamar entre sussuros: - Esse profano é doidão!


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

domingo, 28 de março de 2010

Imprevidência

Lôco de morto de tudo, andava de aí em aí, com acesso irrestrito a todas as portas para todos os segredos. Mas abria-as parcimoniosamente, por não saber se haveria mais o que fazer pelo resto da eternidade.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves.

domingo, 21 de março de 2010

Só eu, meu

Meu mundo
não tem nada de meu.

Minha vida
não tem nada de meu.

Exceto eu,
sufixação metafórica
conjugada de mim.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 12 de março de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Luz Negra


A opção por encher a “alma” com as músicas tristes de suicidas ou masoquistas deve ter sido minha.


Digo deve porque, enquanto não tivermos a exata medida entre o peso de genética e cultura na composição daquilo a que usualmente denominamos livre-arbítrio, fica difícil precisar quem escolhe o quê.


Inegável é que o tipo de ironia a que tanto prezo e que tantas alegrias tem me proporcionado se encontra presente nas composições de tais sujeitos de forma marcante. E poderia ser diferente? A obra de alguém que despreza a própria vida, ou tem valores tão diferentes dos considerados habituais a ponto de encontrar prazer destroçando-a, tem de, necessariamente, possuir uma alta carga de cinismo para fazer-se notar.


Mas isso é apenas o que diz o meu ponto de vista, ou instinto. Talvez sejamos todos como mariposas, voando desesperadamente em torno da tonalidade de “luz” que mais nos agrada. E que, após perderem a capacidade de vôo, se esforçam por explicar umas às outras a óbvia causa de suas desgraças.

Paulo Eduardo de Freitas maciel de Souza y Gonçalves


domingo, 3 de janeiro de 2010

Papel social

Sempre fiel ao cabresto auto-inflingido através das aulas de marketing pessoal, trocou o terno semi-escuro pelo terno mais-escuro, mudou o nó da gravata para um sóbrio Windsor bi-lateral multi-compatirmentado em três tons, e foi para a rua confiante de que a todos quantos o viam passava eficientemente a mensagem de sua promoção de A4 para "letter".


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves