Chipo Schneider teve um sonho com
fogo e mulheres afogadas. Então saiu pelo castelo a descobrir câmaras secretas
e uma história que abalaria a região: o grande incêndio que se abatera sobre a
vila em fins do séc. XIX fora na verdade obra de Suzy Psicopatinha, que achou
um jeito de unir num mesmo evento seu amor pela fotografia e seu ódio pelos
habitantes do vilarejo.
As fotografias macabras e todas
as provas do crime encontravam-se em uma cripta hermética, guardadas por uma
sociedade secreta dedicada a provar a inexistência de bobagens parapsicológicas
através da falsificação e reprodução de crimes sobrenaturais.
Só então, observando os detalhes
da decoração e as próprias mãos, foi que Schneider entendeu: estava nos anos
50, em plena viagem astral, revivendo os últimos momentos de Lily Rosembaum,
sensitiva assassinada pela seita para não revelar suas descobertas, dada como
morta em um conflito paranormal. Isso explicava os sonhos com água. Não eram
parte da trama do castelo, mas sim um pedido de socorro por parte dos espíritos
dos marinheiros de um galeão espanhol amaldiçoado por uma bruxaria encontrada
nos destroços de um velho navio viking saqueado há séculos, a qual era parte do
destino de Lily desvendar.
Com seu assassinato, as energias
residuais de seu espírito atormentado procuraram por décadas alguém de
capacidade equivalente para resolver sua situação, e era a premência desta
agonia que se manifestava através dos sonhos com água.
Ao acordar à escrivaninha do
escritório, Scheneider tomou o telefone e disse à secretária que comunicasse ao
sobrenatural que estava assoberbado e recusando casos intrincados como o que
lhe fora exposto esta tarde, mas que lhes recomendasse o nome de Jack
Palanhengo, médium competente e módico nos preços.
“Prevejo que esse caso ainda vai
acabar levando Jack pro inferno” – pensou sorridente, sem atentar para a
visagem que lhe implantava escutas em pleno cérebro…
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves