Então era assim: andava por ruas secundárias de bairros de baixo padrão para evitar sentir os olhares de tantos juízes às suas costas.
Essa gente gorda que tem por costume comprar uma nova caminhonete para combinar com cada ida ao campo não era problema. A cidade é como essas piranhas pervertidas que tanto mais se entregam quanto mais se lhe metem os pés, e, nesse sentido, tinha gastado as solas em lugares simplesmente inacessíveis a seus consolos de borracha.
Chato mesmo eram os ex-conhecidos, que perguntavam “e aí?” como quem diz “quando vai ser?”. Por um motivo ou outro, embora ainda não conseguissem interpretar sequer o que ia pelas linhas, pareciam acreditar haverem-se tornado algo de melhor ou mais importante por terem encontrado novos mestres para quem tocar o realejo a troco de dinheiro para comprar contas à prestação.
Mas... Se ainda estavam vivas na memória suas expressões de perplexa incredulidade ante esquimós, tomates enquanto frutas, cerâmica para motores, heterogeneidade do passado, deus como tríade e toda uma miríade de conceitos tão estupidamente simples a ponto de serem encontrados em qualquer livro santo ou gibi, não seria fato que qualquer conquista de sua parte poderia ser encarada como amplamente suspeita?
Na verdade, ele sabia. Bastava uma olhada por detrás dos edifícios, onde vastas extensões de mato se desdobravam por entre as zonas residenciais para convencer-se da inutilidade de delongar-se em explicações sobre o porquê de mais valer um clichê de Schiller na mente do que dois de Sartre na mídia...
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves